sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Crime e castigo

Ao analisarmos com mais profundidade a realidade de muitos dos nossos alunos nas escolas, verificamos que o seu sucesso depende, em grande medida, da sua capacidade de domínio da fala, da escrita e da leitura. Estas dificuldades, já bem detectadas pelos professores na várias escolas do país, consequentemente, acarretam uma série de outros problemas como a agressividade, o sentimento de fracasso, a depressão, a frustração, o isolamento, o desinteresse, desmotivação e, em alguns casos, a indisciplina e a violência. Noutros casos observados, alunos com grandes capacidades de leitura e de escrita, também revelam impaciência, desrespeito pelas actividades a desenvolver na sala de aula, desinteresse pelo estudo e pela escola.

Perante este cenário, parece-nos óbvio encaramos, de uma vez por todas, as causas deste problema, em vez de persistir no castigo e na punição, quando o aluno mostra a sua justa revolta.

É importante, pois, que os professores analisem atentamente a situação e que não continuem a classificar os alunos e “bons” e “maus”, sem determinar com exactidão as causas de tais comportamentos e atitudes, utilizando instrumentos de regulação adequados e medidas também elas apropriadas à resolução do problema.

O método simultâneo, tradicional, ainda muito utilizado nas salas de aula deve, de uma vez por todas, desaparecer para dar lugar a metodologias ajustadas às verdadeiras necessidades nos nossos alunos de hoje! Pela sua clara e constatada evidência, não será necessário aqui abordar a importância da imagem, da cor, do som, do movimento no dia-a-dia das crianças e dos nossos jovens…

É neste contexto que surge a nossa necessidade de estudar um pouco mais os sistemas de representação da informação, isto é, a forma como codificamos mentalmente a informação num ou vários sistemas sensoriais, olfactivo, cinestésico, auditivo e visual.

E a pergunta é: no método tradicional de ensino, no qual o professor privilegia a exposição de conteúdos oralmente, que espaço é dado à combinação dos vários sentidos?

No nosso ponto de vista, para que o aluno possa pensar de maneira consciente, para que possa organizar a sua experiência e construa o seu conhecimento, as metodologias pedagógicas a adoptar devem percorrer, simultaneamente, todos os sistemas sensoriais, ou seja, ao aluno devem ser propostas actividades que lhe permitam abordar a informação, de acordo com várias perspectivas e múltiplos suportes ou meios.

No âmbito do projecto Interact, com o auxílio de várias componentes tecnológicas, onde se destacam os quadros interactivos ACTIVboard, os ACTIVote e a construção de “flipcharts”, os vários professores e os seus alunos, desde o ensino pré-escolar até ao secundário, exploram os diversos conteúdos das diferentes disciplinas, recorrendo à transmissão de informação pela sincronização da imagem, do texto e do som, sem descurar a componente cinestésica, na medida em que o aluno interage activamente com os objectos e o software. Assim, a sua acção na sala de aula é mais participativa e colaborativa! Juntando todas estas sinergias da comunicação, o aluno absorve a mensagem com o mínimo esforço físico e psicológico.

De acordo com testemunhos dos alunos, “as aulas, assim, são mais fixes!”; e afirmam: “compreendemos melhor a matéria”, “gostamos de estar nas aulas”, “porque parece o nosso telemóvel”, “não temos de estar sempre a ouvir o professor” e “podemos mexer nas imagens, ouvir, música, ver vídeos, desenhar, escrever, ler, todos juntos e assim é muito mais fácil”.

O crime que se comete com o método tradicional de ensino arrasta o castigo. Para que a indisciplina, o desinteresse, a desmotivação, a frustração, o fracasso e o insucesso diminuam ou desapareçam, é necessário que se olhe de frente para a mudança urgente de metodologias pedagógicas! Ao contrário do que muitos professores pensam, os alunos gostam de trabalhar e de se esforçar, gostam de aprender, gostam de procurar soluções para os problemas, adoram colaborar com os seus pares e os professores, se lhes forem proporcionadas as condições para tal, permitindo-lhe a conquista da autonomia. Estou certo que novos métodos e abordagens promovem o respeito e a admiração para com o professor, logo, o castigo deixa de existir!

Porém, ninguém nasce ensinado! É preciso mostrar aos professores que é possível fazer diferente; que existem inúmeras formas de orientar o alunos no seu processo de construção do conhecimento e que é possível obter resultados muito satisfatórios, socorrendo-nos correctamente destas ferramentas tecnológicas! É urgente proporcionar aos professores um tempo para pesquisa, para investigação e construção de materiais didácticos adaptados às necessidades dos seus alunos! Esta tarefa, necessária e imprescindível, deve ser tida em conta na organização dos horários dos docentes... Como podemos pedir aos alunos que pesquisem, recolham, seleccionem e tratem a informação, se ao próprio professor não lhe for reconhecido esse direito e tempo necessários?

É também fundamental dar melhores condições de trabalho aos alunos e aos professores dentro do espaço de sala de aula, em todas as escolas, para que, de uma vez por todas, “a culpa não morra solteira”! É necessário que a banda larga nas escolas esteja efectivamente funcional; que as redes internas seja readaptadas e estejam preparadas para altos débitos de comunicação; que haja bons e novos meios tecnológicos multimédia capazes de gerir a informação rápida e eficazmente; …

O crime e o castigo dão lugar, então, ao prazer e ao bem-estar na Escola!

8 comentários:

  1. Era bom que algumas mentes iluminadas (ou pelo menos pensam que são) e que de certeza acedem a este blogue muitas vezes, estejam atentos aos textos que se podem ler no Interactsite.
    Pequenas ideias, atitudes, vontades, podem originar grandes mudanças.
    Será que ainda é preciso muito mais para se ter a certeza do grande auxilio que é um Quadro Interactivo em Sala de Aula.
    Ou então que digam o que necessitam para ter a certeza.

    ResponderEliminar
  2. Realmente, hoje em dia com tanta tecnologia ao dispor dos nossos alunos e com o facto de eles, mais do que nós, entrarem directamente e facilmente no mundo da informática, é-nos exigido, a nós professores, um empenho e dedicação maiores, no sentido de acompanharmos o interesse dos alunos, para que estes se sintam premiados e não castigados no processo de ensino aprendizagem. Ainda me entristece constatar que existem colegas que consideram a utilização dos quadros interactivos uma forma pouco satisfatória de leccionar…da experiência que já possuo com a utilização dos Q.I. continuo a considerar de extrema importância para a renovação dos métodos de ensino! Outra coisa não afirma os alunos que com grande motivação e sempre com “um brilho no olhar” aprendem os conteúdos que lhes são incutidos. É com imenso prazer que vejo alunos a pedirem o programa para realizarem trabalhos, o que implica que eles próprios vêem necessidade de serem eles os agentes da aprendizagem!
    Quanto ao tempo que nos disponibilizam, realmente, esse é muito pouco, continuo a trabalhar até altas horas da noite, porque gosto de pesquisar e de mostrar através de hiperligações a sites da Internet, assuntos interessantes e actuais aos alunos, o pior é quando por problemas alheios ao nosso trabalho, não conseguimos abrir aquela página da Internet, porque a ligação caiu…É necessário mais horas para que possamos construir mais e melhor, inclusive trabalhar em equipa, pois é na partilha que se evolue e se aprende…quando se trabalha com o Q.I. já há algum tempo, começa a ser necessário evoluir, alterar, mostrar novidades, pois os nossos alunos estão sempre sedentos de novidades!!!E é partilhando e colaborando que se renovam os métodos…e consequentemente se premeiam os alunos…
    Sandra Ferreira
    Prof. Projecto Interact
    Escola Secundária de Arouca

    ResponderEliminar
  3. A nossa profissão exige-nos actualização e formação constante. O ensino têm de acompanhar a evolução tecnológica e por isso temos de mudar as nossas práticas pedagógicas. Alguns dirão que não podem perder tanto tempo a preparar uma aula utilizando o quadro interactivo, pois têm vida para além da escola. A questão é: será uma perda de tempo? Claro que não. A vontade de fazer coisas diferentes, mudar metodologias é muito estimulante, procuramos muito mais informação. É tão gratificante ouvir os alunos dizerem: “ Hoje a aula foi muito interessante” .

    ResponderEliminar
  4. Enfrentando o mais que plausível quadro futuro de desolação nacional, no que diz respeito à manutenção em serviço de uma percentagem significativa de quadros de zona pedagógica e de escola, face à orientação irredutivelmente reducionista dos nossos governantes, é no mínimo amargamente irónico que a palavra "quadro" (branco e interactivo), resuma em si mesma algum alento e esperança para todos os que pretendem continuar a sua "missão" de leccionar, formar, informar e educar.
    Este "bitter-sweet" de água tónica tépida poderia muito bem ser a passagem de testemunho transversal para várias gerações de professores que, sob a luz quase extinta de uma educação em espírito de liberdade, viesse de algum modo galvanizar a motivação profissional de todos nós.
    O espectro da disponibilidade supra-numerária faz-me lembrar um pouco aquilo que Staline fez aos milhares de soldados soviéticos após o desfecho vitorioso da 2ª guerra - porque tinham estado demasiado expostos ao "espírito decadente" na frente ocidental, na viagem de regresso à Mãe Rússia, os comboios não paravam nas estações, continuando sim mais para norte, para lá do círculo árctico, para "estâncias de reeducação" siberianas. Neste caso, parece que a classe docente padece do mesmo problema - agora que as escolas começam a abrir as suas porta protocolares às novas tecnologias, agora que milhares de docentes completam dezenas e dezenas de horas em formação no campo das mais recentes ferramentas de trabalho pedagógico, agora que novos "ventos estruturantes" sopram dos lados de Bruxelas, adivinham-se no horizonte as nuvens de chumbo da incerteza, da lenta angústia de não se saber ao certo o que a "élite", que comanda os desígnios da nação, pretende fazer com os destinos colectivos e individuais dos que sempre se sentiram professores.
    Os quadros interactivos (pela minha pouca mas muito agradável experiência) serão no futuro o investimento cujo impacto final nunca será plenamente constatado por milhares de professores que eventualmente o deixarão de o ser, e desse modo, muito do tempo e dinheiro gastos em formações terão sido em vão - tal como o sacrifício dos tais bravos soldados do exército vermelho traídos pela lógica social-fascista de Staline - e a vaga denúncia de Churchill "a propos" de uma cortina de ferro, convenientemente atrasada. Não era o próprio "Joe" que dizia que "a morte de um homem é uma tragédia; a morte de um milhão é uma estatística" ? Será que os nossos "aliados" em Estrasburgo nos ajudarão a "reescrever" a História, na Verdade? E o que pensarão eles sobre os QIB's? Pudessem estes ser o último reduto da educação, que logo viria alguém contestá-los pelo exorbitante encargo que representariam no orçamento...
    Por tudo aquilo que ficou dito, penso que o posso manter num país onde ainda não há crime de opinião... , "or is it...?"
    João Carlos Silva, Albergaria-a-Velha

    ResponderEliminar
  5. As novas tecnologias são um elevada motivação para os alunos e um precioso instrumento auxiliar na educação. Gradualmente, o ensino tradicional aludido tenderá a desaparecer, seja pela "reciclagem" e actualização dos profissionais da educação, seja pelo apetrechamento tecnológico dos estabelecimentos de ensino. Tal irá proporcional uma mudança no papel do professor, que assumirá cada vez mais o papel de tutor, alguém que orienta o aluno na descoberta na sala de aula. Verifica-se que muitos dos professores que integram equipas de trabalho ligadas à integração das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (projectos relacionados com os quadros interactivos, com os computadores portáteis, com blogues...)começam já a sentir isso, embora nem sempre de forma consciente, o que é positivo. O aluno começa a ter um papel mais activo na construção do seu próprio conhecimento, impulsionado pela aptência "natural" que as novas gerações têm pelas novas tecnologias.

    No entanto, é necessário ter alguma ponderação, e não se cair em excessos. As NTIC são ferramentas, instrumentos, não devendo ocupar nunca um papel central nos processos de ensino e aprendizagem, de modo a não se correr o risco de se cometer outro crime e sofrer consequente castigo.

    Por outro lado, existe sempre a luta implícita na adopção de métodos de ensino inovadores: o tempo e o reconhecimento.

    ResponderEliminar
  6. “Isto é uma seca ó stôr” = um desafio, um pedido de ajuda, uma realidade…
    De desinteresse, de violência, de irresponsabilidade… os alunos são maus!
    Eis o cenário, a situação, o drama do ensino! Que medidas apropriadas à resolução do problema??? Onde está a arte de ser professor???
    Pela minha curta experiência no ensino penso que a violência evita-se com alunos motivados. Como motivar os alunos?
    - compreender o seu mundo;
    - traçar o perfil do aluno actual;
    - planear as aulas a partir dos seus interesses e ajudá-los a construir o conhecimento;
    A utilização das tecnologias no ensino representa uma estratégia muito motivante. O professor aparece como orientador e facilitador do conhecimento. A utilização do quadro interactivo, da correspondência por email e dos computadores portáteis tem proporcionado um trabalho mais amplo na recolha de informação, mais mobilização de saberes, mais completo, mais limpo, mais eficaz, mais simpático… Os alunos tomando conhecimento dos objectivos pretendidos, fazendo as suas escolhas, conseguem com satisfação realizar a aprendizagem dos conteúdos programáticos e adquirir as competências.
    É com metodologias que favoreçam a interactividade como estimulo dos diferentes sentidos que conseguimos combater o insucesso e a violência escolar. O castigo, a cana, a régua, o quadro preto, a lousa, fazem parte dum paradigma de ensino que hoje não diz nada aos alunos. A educação não escapa: ou acompanha o ritmo da nossa sociedade ou não tem a resposta exigida pela sociedade. Há necessidade de “ganhar” tempo para desenvolver ou construir um novo paradigma da educação no contexto da era tecnológica.
    O castigo não é solução, não é estratégia, é a excepção.

    José António

    ResponderEliminar
  7. Naquele caso o castigo não foi solução. Para os "orgulhosos" do mau comportamento também não...
    Um castigo tem de ser bem ponderado...

    João Teixeira

    ResponderEliminar
  8. Será que “mais escola” é a solução?
    Howard Gardner (1985), baseando-se nas pesquisas de desenvolvimento cognitivo e da neuropsicologia, elaborou a “teoria das inteligências múltiplas”. Esta teoria, já assumida pela comunidade científica, atesta a falácia do ensino exclusivamente centrado no processo linguístico e lógico-matemático, característico do ensino tradicional. O “amordaçar” das outras inteligências, quer nos objectivos do curriculum, quer nos recursos utilizados para o seu desenvolvimento, tem arrastado muitas crianças e jovens para situações de “criminalidade” que, felizmente, nem sempre temos a coragem de punir, dada a falsidade das premissas! Pois, como questiona Rubem Alves (2002), violentos são os pássaros que se atiram contra as grades das gaiolas ou violentas são as imóveis gaiolas que os aprisionam?; violentos são os nossos alunos ou violentas são as escolas que os “amordaçam”?
    Na verdade, não é na quantidade de escola que está a raiz ou a solução para os problemas que afectam as nossas comunidades educativas (John Taylor Gatto diz mesmo que é a escola o problema da educação!!).
    A teoria de Gardner indica-nos alguns caminhos a percorrer, tal como criar um ambiente educativo mais amplo e variado. Ora, a tecnologia educativa proporcionada pelo projecto InterAct é um contributo importante para este novo paradigma educativo que urge implementar.
    Contudo, concordo totalmente que são necessárias condições para que tal tecnologia seja democratizada. Não podemos cair no erro de fazer de certos recursos o que o ensino tradicional fez do saber: torná-lo exclusivo dos professores!

    D.R., C. Paiva

    ResponderEliminar

Escreva aqui o seu comentário ao texto! Obrigado pela sua participação...