Há dias, num dos comentários feitos por um anónimo, repliquei deste modo: "Há quem não tenha consciência profissional e revele muito pouco respeito por quem deseja mudar, preocupando-se pouco com o (in)sucesso dos nosso alunos e do ensino em Portugal!"
Hoje, deixo aqui um testemunho real e actual da professora Maria Inês Conceição, cujo conteúdo poético e primaveril, mas profundamente sério e pedagógico, nos faz reflectir sobre as potencialidades e vantagens dos Q.B.I na sala de aula...
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Primavera Interactiva
A Primavera chegou este mês com todo o seu potencial de renovação de vida, cor e sentimentos.
Foi neste espírito que chegou o Quadro Interactivo (QI) à minha sala, à minha vida profissional (20 anos de serviço), aos meus alunos (18, do 1º ano) e à minha escola (EB1 nº2 de Castelo de Paiva).
Um pouco acanhadas, as flores vão desabrochando, colorindo e perfumando a Natureza, ingredientes necessários à imaginação e poesia….Tem sido neste paralelismo sentimental que o QI tem entrado nas aulas, deixando que a luz, a cor, o som, o movimento, … deixem brotar essa mesma imaginação.
O meu parecer sobre esta nova tecnologia educacional deve ser entendido num contexto a ter em conta:
- O nível de ensino que lecciono, com tudo o que lhe é inerente.
- A perspectiva de educação/ensino com conhecimentos e práticas que cultivo.
- O espírito de inovação, experimentação e avaliação.
Assim sendo, considero que não se deve entender o uso do QI como uma tecnologia de ensinar, programada para fazer com que as crianças aprendam com ela Matemática, Língua Portuguesa e Estudo do Meio. A relação da criança com o QI proporciona um certo desafio divertido, desenvolvendo um processo, do qual, a criança se vai tornando mais inteligente, podendo além disso utilizar esta capacidade em todas as áreas do conhecimento.
Convém que o QI seja considerado, não só, como mais um elemento integrante do meio informático que rodeia a criança, mas também como algo com o qual se pode comunicar e INTERAGIR.
“Interagir”, “interactivo”, estas são as palavras que fazem toda a diferença. Qualquer quadro branco, qualquer vídeo projector resolveria o problema da falta de atenção e motivação, mas é através de QI que a criança pode agir sobre o mesmo, com jogos, desenhos, pode falar com os seus desenhos, transformá-los, mudar-lhes a cor, dar-lhes animação, multiplicá-los… O enfoque difere notavelmente da utilização que se costuma fazer do computador como simples auxiliar de uma aula. Trata-se de um processo no qual a criança pergunta, age, e observa os efeitos da sua acção. E no grupo etário das crianças do 1º Ciclo como é importante a acção! É um factor decisivo na sua dinâmica de desenvolvimento.
As crianças têm mostrado grande entusiasmo e aprendem com surpreendente rapidez a utilizar a pen, as ferramentas… A utilização do QI dá à criança a sensação de poder fazer.
A interacção com o quadro facilita às crianças a descoberta de novos caminhos que podem mudar radicalmente as suas formas de aprendizagem, o desenvolvimento intelectual, afectivo e comportamental.
«A minha turma integra um aluno com Trissomia 21, é uma criança com um comportamento muito específico e que uma das suas características é refugiar-se, afastando-se de actividades colectivas em que tenha de se exibir. Na apresentação do QI (1º dia de funcionamento), foi esse mesmo aluno que foi estrear o quadro, arrastando as letras do seu nome, mostrando à turma que era ele que estava ali. Fez isto com um domínio surpreendente da ferramenta e acção (arrastar), apesar de se zangar com a sombra do seu corpo que teimosamente o impedia de encontrar a letra correcta para o nome!...
Este aluno desfrutou da partilha da sua actividade com os outros, mas teve o dobro do prazer quando contou com a aprovação geral da turma. O QI permite acrescentar ao gozo do sucesso o gozo social».
A interacção com o quadro está a ser levada como um jogo. Um jogo, que não é uma actividade supérflua nem é uma actividade oposta ao trabalho sério escolar mas, muito pelo contrário. Se quisermos captar a atenção e interesse da criança conseguiremos com facilidade se transformarmos a nossa actividade docente num verdadeiro jogo. Assim, consegue-se que a aprendizagem da criança se transforme na mais divertida das suas actividades e para ela, aprender será sinónimo de jogar. Com o QI consegue-se que aprendam pelo prazer da descoberta, do jogo.
O dinamismo que considero fundamental aplicar nesta actividade com o QI, é a motivação que constitui a força que permite avançar em todos os domínios. Esta actividade precisa, como é óbvio, do trabalho e investigação do educador para conhecer quais as estratégias que são mais relevantes para o desenvolvimento da criança e fomentá-las, ao mesmo tempo que tem de avaliar a sua pertinência neste processo complexo de aprendizagem.
«Uma das actividades diárias na minha sala é a leitura de uma história, ora por mim ora pelos alunos que se oferecem. Uma tarde, a história foi lida no QI. O trabalho de preparação da história foi feito em casa (Flipchart: O conto das Estações: Trunfas o espantalho – 8 páginas). As crianças seguiram a história observando as imagens, desta vez no QI, como faziam com as figuras do livro, mas desta vez tiveram oportunidade de acompanhar a leitura do texto.
Mesmo sendo uma actividade mais passiva, o acompanhamento da leitura teve as suas vantagens pedagógicas. No entanto, revelaram muito mais entusiasmo nos flipcharts que se seguiram posteriormente, de exploração da história, onde a tónica está na interacção, no tal jogo».
O importante é saber como pensam e aprendem a pensar as crianças e então procurar as condições necessárias para que estas se entreguem comodamente à experimentação. Isto implica um contacto, não condicionado, entre a criança e o quadro, para que aquela vá canalizando, devidamente, acção e pensamento.
Os primeiros sinais primaveris aí estão… e naturalmente seguem o seu curso, dando-nos frutos mais tarde.
Como fruto, interessa criar uma cultura interactiva que ajuda não só a aprender, mas também a aprender sobre a aprendizagem, constituindo o Quadro Interactivo um elemento de auto-desenvolvimento mental para a criança que o utiliza. Isto é, interessa ensinar-lhes uma nova linguagem, a da programação.
Maria Inês Duarte Vieira da Conceição
31/03/2006